Pistoleiro retratado por Pigossi fez apenas um pedido para o filme: nada de bebida e cigarro

  • Por Jovem Pan
  • 26/07/2018 11h41
Jovem Pan Cineasta e jornalista contaram detalhes do filme "O Nome da Morte"

Ele tem 492 mortes no “currículo” de pistoleiro de aluguel profissional. Continua vivo. Fora da prisão. Vivendo normalmente ao lado da família – que o considera, por sinal, um bom marido e um bom pai. É muito religioso. Achou confuso? Para entrar mais a fundo nessa história e tentar entender a cabeça do rapaz em questão basta conferir nos cinemas brasileiros a partir da próxima quinta-feira (2) O Nome da Morte, filme que marca a estreia de Marco Pigossi nas telonas. Na trama, o ator global viverá o protagonista, o matador cujo nome real é Júlio Santana.

O longa é dirigido por Henrique Goldman (cineasta de Jean Charles) e inspirado no livro homônimo do jornalista Klester Cavalcanti (vencedor do prêmio Jabuti). Em entrevista ao Morning Show, os dois contaram mais detalhes do projeto. Revelaram, por exemplo, que o próprio Júlio acompanhou o desenvolvimento do filme, leu o roteiro antes das gravações e, sem se incomodar com a divulgação de seus crimes, fez apenas um pedido: não queria que seu personagem consumisse bebidas alcoólicas e nem fumasse cigarro.

“O filme é uma tentativa de entender tudo que estava por trás do que é hediondo, condenável. Entender como esse cara justifica a si próprio o que ele faz. Retratar seus conflitos internos. Saber como alguém que passa o dia matando vai para cama à noite, coloca o filho para dormir, janta em casa com a mulher”, explicou Henrique. “No processo de desenvolvimento eu fiz questão que o Klester conversasse com ele. Eu não o conheci, não quis, mas tinha preocupação em respeitar o retrato. O Klester até leu para ele o roteiro e ele fez dois pedidos: não queria ser retratado como uma pessoa que bebe e fuma”.

O jornalista, então, contou como conheceu a história e acabou até mesmo conquistando a confiança do criminoso. Na verdade, tudo aconteceu por acaso. Ele estava fazendo uma reportagem na Amazônia sobre trabalho escravo e descobriu que alguns fazendeiros contratavam matadores para acabar com a vida dos funcionários que conseguiam escapar. Conversando com um policial federal, comentou que gostaria de conversar com um desses pistoleiros.

“Esse policial me deu um número de telefone. Achei que era de uma delegacia ou um presídio, só que era de um telefone público que o matador aceitou atender em determinado dia e hora. O próprio policial não achou estranho passar a um jornalista o contato de um assassino de aluguel! Ali eu comecei a conversar com o Júlio. Passei 7 anos conversando com ele por telefone. Até que ele concordou em se encontrar comigo pessoalmente. Eu vi que a história era muito mais rica e complexa para uma matéria e surgiu a ideia do livro”, contou Klester.

Mas ele não teve medo de encontrá-lo? Acredite se quiser, a resposta é não. “Foi muito tranquilo. A gente tinha uma conversa por mês no telefone de cerca de uma hora, era quase um namoro virtual (risos). Tínhamos uma relação forte de confiança. Quando fui encontrá-lo já estava tudo consolidado. Eu não tinha nenhum medo. Até porque existia o outro lado, ele poderia ter medo de mim, já que eu poderia levar a polícia! A confiança era mútua”.

A entrevista completa pode ser vista no canal do programa no YouTube.

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